
Lembro-me como se fosse ontem o dia em que minha família se mudou para o Brasil. Eu tinha 8 anos. Papai havia feito um ótimo negócio na cidade em que morávamos: Dehli. Havíamos ganho tanto dinheiro, mamãe mal pôde conter as lágrimas. Kashi logo começou a insistir que papai investisse o dinheiro: eu não sabia bem o que isso significava, e continuo sem saber, mas Kashi sempre dissera que era um jeito fácil de se ganhar dinheiro fazendo praticamente nada. Papai não quis saber. "Nosso povo é tradicionalmente comerciante", repetia ele. "O comércio corre em nossas veias". O comércio corre em nossas veias? Eu não entendia nada daquilo. Confesso que prestava pouca atenção. Minha mãe comentava comigo que poderíamos comprar tecidos novos, e isso me interessava muito mais no momento.
E então aconteceu. Naquele dia fatídico, papai escancarou a porta do trailer, gritando para que pegássemos tudo o que podíamos carregar. No meio da correria, eu só ouvia "Sandhya, pegue suas coisas logo! Depois explicamos tudo!". Coloquei meus pertences em uma mochila, cambaleando pelo trailer enquanto papai dirigia velozmente até o aeroporto. Lembro-me de minha mãe gritando "Mas para onde??", e meu pai respondendo, após uma pausa: "para... o Brasil!".
Assim viemos parar aqui. Por meses mudamos de pensão em pensão, sem que me explicassem ao certo o que estava acontecendo. Bom, costumávamos viajar muito quando eu era pequena, então mudanças não eram problema para mim. Só me incomodavam os chochichos entre meus pais e meu irmão, que sempre cessavam quando eu entrava no aposento. Por que não me contar logo o que estava havendo? Eu podia sentir que algo estava errado. Muito errado.
Foi na primavera quando meu pai conseguiu comprar um sobradinho. Ele parecia ávido por gastar o dinheiro que tinha ganho em Dehli. Montamos uma pequena loja no andar de baixo, que logo começou a funcionar, graças à experiência de meu pai e meu irmão. Passei a ajudar nas vendas depois da escola. No começo foi muito difícil aprender a falar português, mas eu e o Kashi nos adaptamos bem. Papai e mamãe não aprenderam direito ainda, então nós temos que ajudá-los, mas tudo bem.
Ainda não me disseram o motivo verdadeiro para termos vindo às pressas para esse país de cultura tão diferente da nossa. Papai me mandou tomar cuidado, e sempre prestar atenção se tem alguém me seguindo. Ele diz que é porque São Paulo é uma cidade grande. Mas Dehli também é, e ele nunca foi tão preocupado enquanto morávamos lá. Tenho um pressentimento ruim sobre isso tudo. Será que corremos perigo?
E então aconteceu. Naquele dia fatídico, papai escancarou a porta do trailer, gritando para que pegássemos tudo o que podíamos carregar. No meio da correria, eu só ouvia "Sandhya, pegue suas coisas logo! Depois explicamos tudo!". Coloquei meus pertences em uma mochila, cambaleando pelo trailer enquanto papai dirigia velozmente até o aeroporto. Lembro-me de minha mãe gritando "Mas para onde??", e meu pai respondendo, após uma pausa: "para... o Brasil!".
Assim viemos parar aqui. Por meses mudamos de pensão em pensão, sem que me explicassem ao certo o que estava acontecendo. Bom, costumávamos viajar muito quando eu era pequena, então mudanças não eram problema para mim. Só me incomodavam os chochichos entre meus pais e meu irmão, que sempre cessavam quando eu entrava no aposento. Por que não me contar logo o que estava havendo? Eu podia sentir que algo estava errado. Muito errado.
Foi na primavera quando meu pai conseguiu comprar um sobradinho. Ele parecia ávido por gastar o dinheiro que tinha ganho em Dehli. Montamos uma pequena loja no andar de baixo, que logo começou a funcionar, graças à experiência de meu pai e meu irmão. Passei a ajudar nas vendas depois da escola. No começo foi muito difícil aprender a falar português, mas eu e o Kashi nos adaptamos bem. Papai e mamãe não aprenderam direito ainda, então nós temos que ajudá-los, mas tudo bem.
Ainda não me disseram o motivo verdadeiro para termos vindo às pressas para esse país de cultura tão diferente da nossa. Papai me mandou tomar cuidado, e sempre prestar atenção se tem alguém me seguindo. Ele diz que é porque São Paulo é uma cidade grande. Mas Dehli também é, e ele nunca foi tão preocupado enquanto morávamos lá. Tenho um pressentimento ruim sobre isso tudo. Será que corremos perigo?

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